quinta-feira, 18 de julho de 2013

A cirurgia


Queria ter voltado aqui bem antes, mas passei um bom tempo me preparando para contar tudo.

Lembram que em março visitei um médico fora do Estado no qual moro? Então... Conversamos muito e chegamos à conclusão de que a cirurgia era a saída mais segura. O angioma não era mais estável como havia sido há alguns anos. Além das dores de cabeça, eu estava sentindo dormência nas mãos e na boca. Pra piorar o quadro,  já haviam ocorrido duas hemorragias (pra quem não sabe, os angiomas que já sangraram, possuem mais chance de sangrar novamente). 

Mamãe não concordou muito com minha decisão, ela acreditava que era algo muito arriscado, mesmo o médico tendo garantido que ele já fazia esse tipo de cirurgia há alguns anos e que poderia me operar tranquilamente.

Tomada a decisão, procurei meu plano de saúde para ver o que eles poderiam fazer por mim (o médico não atende por convênio nenhum, então minha ideia era negociar com o plano para que eles pagassem o que pagariam a um médico conveniado da rede e eu arcaria com o restante, já que cirurgia e hospital juntos, somavam um valor de mais de seis dígitos). Tentei negociar de todas as formas, mas não teve jeito. O máximo que o convênio disse que faria por mim, era indicar um médico que pudesse me operar. Pera, explico melhor. Toda cirurgia tem um número de procedimento. O que eles fizeram? Mandaram esse número para um médico em São Paulo e, baseado apenas nisso, o médico disse que operaria. Ele não viu exames, não conversou comigo, NADA. E, ainda assim, disse que faria a cirurgia. Eu não poderia aceitar algo do tipo. Visto que já tinha procurado os caminhos mais pacíficos e eles não haviam dado resultado, resolvi entrar com um pedido de liminar contra o plano de saúde. O mesmo foi deferido após 24h.

Quinze dias após a liminar ser deferida, eu já estava em São Paulo para realizar a cirurgia. Nervosa? Um pouco. Seria um procedimento longo e, além disso, estava longe de casa, o que complicava as coisas. Mas a equipe do Dr. Evandro de Oliveira é maravilhosa, não restaram dúvidas de que a decisão certa havia sido tomada. 

Internei-me na sexta, 12 de abril, a cirurgia seria no dia seguinte. Passei a noite fazendo exames preparatórios, quase não dormi e, no sábado, às 6h já estava acordada, rumo ao centro cirúrgico. Sinceramente? Não lembro de nada. O anestesista disse que os testes para administrar a anestesia demorariam em torno de 1h30 e que eu não deveria estar acordada neles. Me aplicaram Dormonid quando eu ainda estava no apartamento e devo ter dormido no caminho e só acordei no domingo. Sim, fiquei apagada por mais de 24h. 

Acordei na UTI neurológica e o médico intensivista estava lá, pronto pra me explicar tudo. Ele disse que a cirurgia tinha sido um sucesso, que os angiomas tinham sido removidos, mas que ocorrera uma perda motora do lado direito. Tentei mexer o braço, não deu. O mesmo com a perna. A voz saía toda embolada, eu mal me entendia. Enfim, o que havia acontecido? Explicando grosseiramente, apesar de não ter havido lesões durante a cirurgia, no lugar em que se encontravam os angiomas, também tinham neurônios que eram responsáveis pela coordenação/movimentos/etc. Com a saída dos angiomas, houve também perda de neurônios que estavam nessa área. O cérebro teria que aprender como fazer tudo novamente, só que utilizando outras áreas. Naquele mesmo dia, na cama mesmo, já comecei a fisioterapia. No começo, era bem leve, já que minha respiração ficava muito cansada. Consistia em tentar realizar atividades simples, como apertar a mão, mexer os dedos, encostar o indicador na ponta do nariz... Incrível como são tarefas banais que executamos todo dia, mas ali eu me via impotente, sem conseguir realizar nenhuma. 

Dois dias depois, tive alta da UTI e pude ir para o apartamento. Ainda não andava, mas estava disposta a tentar. Me aconselharam a ir com calma. Ok, deixei a tentativa para o dia seguinte. Com a ajuda da fisioterapeuta, consegui dar dois passos, já era algo. A partir daí, as coisas começaram a melhorar mais. Com o braço é/era tudo mais lento, mas os progressos com a perna foram bons. Outra coisa que incomodava muito era a dor de cabeça. O corte é muito grande, coisa de uns 30cm. Passei uns 45-50 dias tomando analgésicos.

Eu deveria ter alta no domingo, 21 de abril, mas no sábado tive um desmaio enquanto escovava os dentes e a alta foi adiada para o dia. 22. Só pude retornar para Teresina no dia 30 e, ainda assim, foi uma viagem muito dolorida e cansativa.

Hoje, pouco mais de 3 meses depois, já ando e falo direito. Quanto aos movimentos finos, esses são mais difíceis. Mas estou recuperando-os gradativamente. 
Acho importante compartilhar tudo o que ocorreu com vocês, é interessante que conheçam os aspectos do pós operatório. Se me arrependo? Nas horas de raiva e de dor, provavelmente, sim. Mas é algo que penso de cabeça quente, no fim das contas sei que foi a decisão mais acertada. 

Em 1998, quando descobri o problema com os cavernomas, não havia a possibilidade de cirurgia, passei por mais de 20 médicos e todos disseram que eu morreria se operasse. Encontrar alguém capacitado, seguro do que fazia e, acima de tudo, um homem de fé, foi um milagre. Apenas agradeço.

Espero que o relato tenha ajudado de alguma maneira.


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Dr. Evandro de Oliveira
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